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A longa crise enfrentada pelo setor manufatureiro nacional fez a indústria brasileira perder posições no mercado global de segmentos estratégicos de alta tecnologia, como computadores, produtos farmacêuticos e veículos, e também cair posições no ranking de competitividade internacional. As informações constam do relatório 2018 da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido).

 

Valor adicionado – Segundo dados compilados pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), no ranking de competitividade global, depois de manter a 33ª posição por quatro anos, o país desceu dois degraus, para a 35ª, de um total de 150 países. A Unido ressalta que o valor adicionado da indústria de transformação brasileira chegou a apenas 11,7% do PIB nacional em 2017. O valor adicionado per capita do setor caiu 1,8% ao ano a partir de 2010, ante uma expansão de 1,5% nas economias emergentes e de 1,8% no mundo.

 

Diminuição – Com essa trajetória cadente, entre 2005 e 2017, a participação da indústria de transformação brasileira no mundo diminuiu de 2,9% para 2,0%, a maior parte – 0,7 ponto percentual – nos últimos sete anos. Em 2018, o desempenho não deve ser diferente. Segundo o economista do Iedi Rafael Cagnin se o PIB da indústria de transformação brasileira aumentar 2,2% como prevê o Banco Central, e o da indústria mundial subir 3,9%, como estima a Unido, a participação do país deve ficar abaixo de 2%. “Há esse risco”, afirma.

 

Dez maiores – Mesmo diante das dificuldades, a indústria brasileira ainda figura entre as dez maiores do mundo – está em nono lugar. “Com toda a crise, o Brasil ainda é um dos maiores do mundo. Regredimos muito, mas temos ainda capacidade de reagir”, diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.

 

Direção contrária – Em 2017, o valor adicionado da indústria cresceu no mundo 3,5%, o melhor resultado em seis anos. O resultado foi puxado principalmente pela Europa e pela China. A América Latina, em boa parte por causa do Brasil, foi na direção contrária e caiu 0,3%, após recuo de 3,7% em 2016.

 

Intensidade tecnológica – Além de ver sua participação murchar, a indústria brasileira vive uma situação mais grave, na avaliação do Iedi, que é o recuo de sua posição em setores de maior intensidade tecnológica. Segundo a Unido, entre 2005 e 2016, a relação entre o valor adicionado das indústrias de média e alta intensidade tecnológica e o da indústria total cresceu na maioria das economias em desenvolvimento. O Brasil é uma das exceções mais dramáticas, pois essa relação caiu de mais de 50% em 1995, para cerca de 34% em 2000, mantendo-se praticamente estável desde então.

 

Duplo desafio – Segundo Júlio Almeida, o desafio do Brasil é duplo: precisa absorver tecnologias emergentes e passar também a produzi-las. Um setor-chave em que o país perdeu posições é o de computadores, eletrônicos e produtos óticos. Enquanto a China alcançou a liderança do segmento, com 28% da produção global, ultrapassando os Estados Unidos e o Japão, o Brasil deixou de constar na lista dos 15 maiores produtores no ranking atualizada até 2016.

 

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Economia em crise – Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) diz que a queda reflete a crise da economia brasileira. “Houve um grande abalo no consumo interno de produtos como celulares e computadores. Na indústria, a diminuição de projetos de automação, por exemplo, foi muito forte.”

 

Farmacêutica – Na indústria farmacêutica, também de elevada intensidade tecnológica, o Brasil igualmente não está mais entre os 15 maiores. Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma, que reúne as empresas do setor, credita essa queda à regulação dos preços, que, segundo ele, prejudica o investimento. “Desde 2002 os reajustes têm ficado abaixo dos custos da indústria. As políticas internas são ruins para o setor, o que se reflete na produção e na inovação”, afirma.

 

Outros ramos – Outros ramos em que o país recuou no ranking incluem equipamentos elétricos, máquinas e equipamentos e veículos automotores.

 

Preocupante – Durante a crise recente, a produção nacional de produtos de média e alta tecnologia caiu 25%, segundo Rafael Cagnin. “É muito preocupante. São esses segmentos que estão na ponta do processo de transformação tecnológica do mundo”, diz.

 

Inovação – “Mais que uma questão de quantidade, o Brasil não está acompanhando a inovação em curso no mundo. Crescemos a taxas mais baixas que a global e perdemos nos ramos que têm liderado o setor”, afirma Cagnin, que defende que o país tenha um plano estratégico de incentivo à indústria.

 

Produção – Quanto à produção deste ano, o economista vê 2018 como “perdido”. Até agosto, a indústria cresceu 2,5% sobre o mesmo período em 2017. “O ano é perdido porque não aceleramos o ritmo de crescimento”, afirma. Para isso seria necessária a retomada de investimentos, com expansão de capacidade, algo que não está no horizonte pelo menos do próximo ano. (Valor Econômico)

Fonte: Sistema Ocepar

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