Indústria Farmacêutica: Drible na crise econômica

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A indústria farmacêutica atravessa o período mais crítico da crise econômica sem nenhum distúrbio grave nos negócios. Projeção da consultoria internacional de marketing farmacêutico IMS Health aponta alta de 10% na receita do setor neste ano em relação a 2015, com faturamento estimado em RS 66 bilhões. A boa saúde dos laboratórios se mantém, mesmo com problemas do governo - um grande comprador de medicamentos -, que vem adiando compras e deixando de honrar pagamentos.

Mesmo quando a compra depende só da decisão do consumidor, o mercado de remédios se sustenta. Os isentos de prescrição médica, que respondem por quase um terço da receita global, estão crescendo menos em vendas, mas o faturamento se mantém nos níveis dos anos anteriores. O número de unidades comercializadas deve crescer entre 5%e 6% em 2016, ante os 11 % no ano passado. "A receita este ano deve aumentar de 9% a 10% sobre o ano anterior e o volume em 5%", estima Fábio Barone, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip).

Tanto os itens que dependem do consumidor como os vendidos com receita médica exigem novos lançamentos no mercado. Os produtos inovadores, no entanto, dependem de investimentos em pesquisa. "Investimento em inovação é um fator que vem impulsionando este ramo nos últimos anos", diz Barone.

Os investimentos em pesquisa no país somam pouco mais de U$S 139 milhões por ano, mas poderiam ser muito maiores, dizem executivos do setor. O Brasil tem perdido investimentos internacionais em pesquisa pela morosidade e burocracia desde a fase de pesquisas básicas e clínicas até a aprovação final dos medicamentos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Embora haja uma melhora no processo, executivos observam que as queixas se repetem há anos, sem grandes resultados. "O tempo gasto para uma pesquisa clínica no Brasil oscila entre dez e 14 meses, enquanto a média mundial está entre quatro e seis meses", diz Pedro Bernardo, diretor da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). A entidade representa 56 laboratórios, responsáveis pela venda de 82% dos medicamentos de referência no país e por 33% dos genéricos.

Outra queixa da Interfarma é em relação à demora de aprovação de novos medicamentos pela Anvisa. "Mais de mil produtos estão aguardando há 3,6 anos, em média. Se observarmos apenas os similares, a demora ultrapassa quatro anos, com 1.530 dias. A espera também é longa para os medicamentos inovadores. São mais de dois anos para que o pedido comece a ser analisado", diz Bernardo.

Jarbas Barbosa, diretor-presidente da Anvisa, afirma que os processos estão sendo revisados para ganhar velocidade. "A espera hoje é bem menor que há dois anos. Ainda é insuficiente, mas estamos nos esforçando para nos alinharmos com as melhores práticas internacionais. Essa premissa está no topo das prioridades da Anvisa." Ele chama a atenção para o fato de que a Food and Drug Administration (FDA) dispõe de "um efetivo dez vezes maior que o da Anvisa para realizar a mesma tarefa."

Segundo Barbosa, as indústrias são em grande parte responsáveis pelas longas filas à medida que apresentam dossiês incompletos. "Muitos desses dossiês são falhos nas informações, obrigando a devolvê-los para complementação." Para reduzir transtornos desse tipo, a Anvisa passou a distribuir "guias técnicos" aos laboratórios, com o intuito de elevar a qualidade das informações, e realizar workshops. "Com isso, esperamos reduzir o tempo de análise pela metade." Juan Carlos Gaona, gerente-geral da Abbott no Brasil, vê sinais de melhora no andamento da Anvisa, porém se queixa da longa espera. "Ter que esperar dois ou três anos para a aprovação de um produto inovador é negativo. O mesmo medicamento é aprovado em um ano e meio na Europa, nos Estados Unidos e mesmo em países da América Latina, como a Colômbia. No Brasil gasta-se o dobro desse tempo." As filas e a burocracia, no entanto, não impedem que o Brasil tenha um peso grande na receita da Abbot. "Em 2015, o faturamento no Brasil alcançou US$ 381 milhões. Para nós, é um dos países mais importantes entre os emergentes. Para este ano, a perspectiva é crescer bem acima do mercado." Gaona acredita que os períodos de crise são bons momentos para ampliar os investimentos.

"Essa turbulência é temporária e é possível ver sinais de reativação. Por isso, acabamos de construir um centro de desenvolvimento no Rio, cujos investimentos somaram R$ 20 milhões." A empresa também negocia parcerias para expandir seu portfólio. As Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) são acordos que podem beneficiar tanto laboratórios estrangeiros, donos de patentes, como a indústria nacional, com vantagens para o governo e a população. Na prática, esses entendimentos estão empacados e correndo riscos pelas frequentes mudanças no Ministério da Saúde.

Bernardo diz que equipes executivas da Interfarma e da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (Alfob) elaboram um documento conjunto para reivindicar ao governo uma solução para o entrave das PDPs. "Hoje, a revisão de contratos criou um ambiente de incertezas, em que ninguém sabe quais parcerias serão executadas nem quando irão começar. É preciso uma segurança jurídica." As indústrias farmacêuticas filiadas à Interfarma, segundo ele, que dispõem de altas tecnologias, não se sentem seguras em relação ao parceiro.


"Muitos contratos que foram assinados não estão acontecendo. As PDPs foram criadas com o objetivo de transferir tecnologia da iniciativa privada para laboratórios públicos, possibilitando a produção de medicamentos estratégicos para o país", ressalta. "No entanto, as últimas mudanças no Ministério da Saúde acabaram resultando numa revisão das regras para contratos, suspendendo temporariamente as PDPs anunciadas até 2015." No documento conjunto, Interfarma e a Alfob se manifestam favoráveis à existência das PDPs e se colocam à disposição para eventuais ajustes e melhorias na iniciativa, com base na experiência acumulada nos últimos anos. "As parcerias que anualmente vinham sendo assinadas desde 2015 cessaram e ficaram aguardando a posição definitiva do Ministério da Saúde, que não veio", diz Bernardo.

Há exemplos bem-sucedidos dessas parcerias. Em 2015, o laboratório Sanofi assinou globalmente mais de 75 acordos de pesquisa com parceiros internacionais e nacionais. "Temos parcerias no Brasil com laboratórios e instituições de pesquisa locais", diz Pius Hornstein, diretor-geral da Sanofi no Brasil. Um deles vem da divisão de vacinas da companhia, a Sanofi Pasteur. "Entre eles, está a PDP para desenvolvimento da vacina contra gripe com o Instituto Butantan. Há ainda a parceria entre a Sanofi Pasteur e a Fundação Oswaldo Cruz, que permitiu a introdução da vacina inativada contra poliomielite na campanha de imunização do Ministério da Saúde." A receita da empresa cresce acima da média do mercado brasileiro, a um ritmo de dois dígitos. "Esse desempenho reflete majoritariamente nosso portfólio de produtos", diz Hornstein. Em 2015, a empresa desembolsou 14 milhões de euros em pesquisa clínica no Brasil. "Temos 56 estudos clínicos em andamento no país, nas fases 2 , 3 e 4, envolvendo cerca de 6,4 mil pacientes. Globalmente, a Sanofi pretende elevar o investimento em pesquisa e desenvolvimento, de 5,2 bilhões de euros por ano em 2015 para 6 bilhões de euros por ano até 2020."

A Novartis também prevê crescimento de dois dígitos para 2016. "As divisões de oncologia e de genéricos são os destaques da nossa performance deste ano, apesar do cenário econômico instável no Brasil", diz José Antonio Vieira, presidente do grupo Novartis. Nos últimos três anos, os investimentos somaram mais de RS 222 milhões em pesquisas clínicas, beneficiando mais de 30 mil pacientes em mais de 300 centros de pesquisa no Brasil. "Na área farmacêutica, temos mais de cem pesquisas clínicas em diversas áreas terapêuticas, como dermatologia, oftalmologia, cardiologia e respiratória, e apoiamos diversos projetos inovadores." A estratégia da Novartis é aumentar mais a liderança na área de terapia alvo molecular e investir na próxima geração de terapias imuno-oncológicas. "No Brasil, até o fim de 2016, iniciaremos três estudos novos de câncer de mama e quatro de câncer de pulmão em quase 50 centros de pesquisa clínica. Todos os sete estudos que estão sendo realizados com terapias alvo moleculares bloqueiam o crescimento e a progressão do tumor." Em julho deste ano, a Novartis anunciou uma parceria com a Xencor, empresa americana, para o desenvolvimento de anticorpos bio específicos para o tratamento de câncer.

O Brasil é o maior mercado para a Pfizer na América Latina. O ano de 2016, diz Victor Mezei, presidente da Pfizer Brasil, marca o fortalecimento do portfólio de oncologia da empresa no país, com a chegada de dois novos medicamentos: o Xalkori (crizotinibe), primeiro medicamento de administração oral para o tratamento do câncer de pulmão. Já o Inlyta (axitinibe) é indicado para pacientes com carcinoma de células renais avançado, tipo mais comum de câncer de rim. "Outra área de destaque para a Pfizer Brasil em 2016 é o segmento de doenças raras, que desde 2015 se tornou um dos focos prioritários da companhia para investimentos em pesquisa e desenvolvimento." A Pfizer investe em âmbito mundial U$S 7,5 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, e o Brasil representa um importante polo de pesquisa clínica. "Atualmente, o país desenvolve 44 estudos, que representam 21 moléculas."

No Brasil, no ano passado, a empresa investiu em RS 30,2 milhões em infraestrutura e novos equipamentos. Em 2016, a companhia completou a transferência de sua produção de saúde humana para a planta de Itapevi, na Grande São Paulo, uma operação que demandou um aporte de U$S 27 milhões para a expansão e modernização da fábrica. A Aché aplicou RS 160 milhões nas áreas de inovação e desenvolvimento, afirma Paulo Nigro, presidente da empresa. Segundo ele, no fim do ano passado, a empresa inaugurou um laboratório em Guarulhos, na Grande São Paulo, voltado à inovação. Como seus concorrentes, o objetivo é crescer dois dígitos neste ano. "Em 2015, o incremento foi de 13,5% sobre o ano anterior, ao atingir uma receita bruta cie RS 5,16 bilhões. Para 2016, a meta é crescer acima do mercado." A Aché também fez parcerias com empresas de pesquisa e desenvolvimento nacionais e internacionais.

O produto Innelare foi desenvolvido com a empresa inglesa Oxford Pharmascience. Já o probiótico Prolive contou com participação da Capsugel, e o Provance e o Colikids, com a sueca BioGaia, segundo Nigro. Outra parceira de destaque na área de inovação incremental foi firmada com a sueca Ferring Farmaceuticals. "A parceria visa a construção de um laboratório para o desenvolvimento de uma plataforma tecnológica baseada em nanotecnologia no Brasil, sendo aplicável para o desenvolvimento de novos medicamentos, alimentos e cosméticos."

Fonte: Valor Econômico

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